sábado, 14 de janeiro de 2012

Observação da Natureza

Trilha na Mata Amazônica

"No final, conservaremos apenas o que amarmos, amaremos apenas o que compreendermos, e compreenderemos apenas o que nos for ensinado."
Baba Dioum

Observação de natureza é um conceito amplo, que vai desde o observador de aves ou borboletas que registra cada espécie que encontra ao longo da sua vida, até o observador de comportamento animal, que não se importa tanto com a espécie que está vendo e sim pelo que esta faz. É claro que no meio destes dois existem inúmeros outros observadores, incluindo os curiosos, que se contentam em saber um pouco do que está acontecendo bem sob a sua vista enquanto andam por uma trilha ou vêem uma aranha tecendo sua teia entre o vaso e a plantinha.

Felizmente para os observadores, natureza está por toda parte. Do deserto às savanas, das montanhas às fossas abissais, das florestas tropicais ao fundo do nosso quintal um maravilhoso mundo novo espera para ser descoberto e observado.

Observe a natureza. Vá até o jardim e olhe mais atentamente para as plantas, para o chão ou mesmo para os muros. Ande pela rua prestando atenção às árvores e às moitas. Vá até um parque e ande pelas trilhas. Você pode ter uma grata surpresa.

Quando você se apaixonar e quiser focar em algum ponto especial, as possibilidades são praticamente ilimitadas.

Material para Observação

Guia de Identificação
- Catálogo ou guia de identificação de espécies: no Brasil existem guias muito completos de aves, contendo todas ou quase todas espécies de aves do pais. Existem também guias regionais para mamíferos, para borboletas, para árvores ou outras plantas. O catálogo é o instrumento mais importante para um observador da natureza que queira saber o que está vendo.

- Binóculo: fundamental para se observar organismos que não chegam perto como aves, borboletas, macacos e outros mamíferos. Cada tipo de animal, ou até mesmo plantas, requer um tipo diferente de binóculos. Para aves, é sugerido um binóculo mais potente. Para borboletas, um binóculo pequeno. Para quem não tem um foco, um binóculo intermediário do tipo 7 x 21 pode ser uma boa opção.

- Máquina fotográfica: registrar o que se está vendo pode ajudar na identificação posterior de muitos grupos. Um equipamento fotográfico simples pode ajudar a fazer uma foto rudimentar para identificação, mas para ter fotos realmente boas e úteis, o equipamento deve ser apropriado para o que se está fotografando. Por exemplo, para fotografar aves são necessárias objetivas longas (teles), enquanto para fotografar sapos e insetos pode ser necessário objetivas macro ou micro.

- Caderno de anotações: parece clichê andar na mata com um caderninho na mão, mas é nele que você poderá anotar o que viu: o nome da espécie, o local, o ambiente, a hora do dia, o clima, o comportamento, e assim por diante.

- Caderno de desenho: se você for habilidoso, poderá perfeitamente substituir a máquina fotográfica por um caderno de desenho para fazer sketches a lápis, ou até mesmo aquarelas. Se desenhar não for o seu forte mas você quiser fazer alguns esboços, pode sempre usar o próprio caderno de anotações.

- Roupas apropriadas: alguns animais não se importam com o que você está vestindo. Não são tímidos e serão observados mesmo que você esteja usando colete cor-de-abóbora. Mas alguns animais, como as aves e os mamíferos, fugirão de você. Para estes animais mais tímidos, roupas cáqui ou camufladas podem ser muito úteis. Observadores de aves mais empolgados usam não só roupas camufladas, como se escondem em casinhas camufladas para não espantar os animais.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Papéis de Parede

Papeis de parede 1600 x 1200 pxls. Basta clicar na foto e depois usar o botão direito para baixar a foto ou colocá-la como papel de parede. © Cláudio Patto. All rights reserved.









Papéis de parede sem incrições do site e legenda estão disponíveis sob consulta.

Libélulas: machismo extremo

libélulas em cópula
"Pela teoria da seleção natural, não basta apenas sobreviver. É preciso deixar descendentes. 'Entre as libélulas, essa tese é confirmada com determinação' diz o biólogo Cláudio Patto, doutorando em ecologia na Unicamp, de Campinas, SP. A fêmea armazena o esperma do macho até a fecundação, que acontece apenas no momento em que ela bota os ovos. E, na briga entre os machos para fecundar o maior número possível de ovos, valte tudo. Os machos das libélulas têm um aparato usado como espátula para raspar a cavidade interna onde a fêmea guarda o esperma. A idéia é remover o esperma de outro macho que tenha eventualmente fecundado a fêmea antes dele e, com isso, garantir que os ovos serão os de sua descendência. É também comum ele segurar a fêmea pelo pescoço com uma pinça abdominal (como na foto) até ela por os ovos. Tudo para não correr o risco de outro vir, retirar seu esperma e colocar o dele no lugar.

O professor Paulo De Marco Jr., da Universidade Federal de Viçosa, MG lembra que algumas espécies de libélulas usam uma tática ainda mais interessante: 'São machos que preferem controlar as fêmeas ovuladas voando sobre ela e permitindo-se assim 'infidelidades' como acasalar com outras fêmeas que passem por ali'."

National Geographic Brasil, Junho de 2000, página 19

Formiga Cortadeira: usando o corpo como compasso

saúva Attinae
As formigas da tribo Attinae, como esta saúva da foto (Atta sp.), se alimentam de fungos que criam em seus formigueiros, alimentados com pedaços de folhas que cortam por ai. Estas formigas são divididas em castas, cada uma com sua função. A maior casta é das soldadas, que cuidam do patrulhamento e defesa do ninho e das outras formigas. As saúvas têm castas para tudo quanto é tipo de função. Um tamanho de formigas para carregar as folhas cortadas, outras para cuidar da criação de fungos e das larvas, e outra para cortar as folhas.

Estas cortadeiras têm que cortar pedaços de folhas de um tamanho certo que as carregadeiras consigam levar sem muita dificuldade. E para conseguir este tamanho perfeito, elas seguram na borda da folha com uma das patas e vão cortando e girando, como se fossem um compasso (veja a foto e esquema abaixo). Assim, as folhas cortadas têm praticamente o mesmo tamanho, facilitando o transporte das carregadeiras.

E tem mais. O tamanho das cortadeiras é otimizado em relação ao das carregadeiras, cortando folhas proporcionais ao seu tamanho que são do tamanho ótimo para as carregadeiras levarem, tudo muito bem selecionado e adaptado ao longo de muitas e muitas gerações de formigas.

Louva-Deus: perdendo a cabeça pela fêmea

louva-deus: mantidae
O Louva-Deus recebe este nome por causa da sua postura, com os braços dobrados na frente do corpo como se estivesse rezando. Mas na realidade este inseto predador fica nesta posição preparado para dar o bote em alguma presa desavisada que passe ao alcance de suas potentes e rápidas garras. Em geral são outros insetos, que ao serem capturados, são rapidamente desmenbrados e devorados.

Mas o que mais chama a atenção neste animal é seu comportamento reprodutivo. A fêmea literalmente come o macho durante a cópula. Primeiro ela arranca a cabeça do macho e vai devorando-o aos poucos. Este comportamento garante à fêmea uma boa refeição que lhe dará uma energia extra para gerar filhotes numerosos e mais saudáveis. O macho, que poderia facilmente se defender do ataque da fêmea não o faz. Sua morte contribui para que sua parceira lhe dê filhos fortes e saudáveis e com mais chances de deixar mais descententes.

O mais estranho disto tudo é que o macho, não interrompe a cópula e o processo de transição do seu semem para a fêmea mesmo depois de degolado. Isto porque, apesar do seu cérebro ficar na cabeça, estes insetos possuem outros núcleos nervosos espalhados pelo corpo que se encarregam de terminar o serviço.

Porque Certos Insetos Buscam a Luz?

À noite, vários insetos são atraídos pela luz, voando em volta do lampião, entrando pela janela das nossas casas, girando em volta das lâmpadas e caindo queimados no chão. Andando no mato completamente escuro, invariavelmente vários insetos ficam batendo na nossa cara quando voam em volta da luz da nossa head-lamp. Ou pior, quando vamos olhar como está a comida no fogareiro usando a lanterna ou dar aquela mexidinha para não grudar tudo no fundo, volta e meia um inseto, atraído pela luz, cai dentro e complica a tarefa de cozinhar.

Ou para alguns, como meu amigo Bareta, aumenta o nível de proteína da comida.

Muitas pessoas me perguntam intrigadas qual é a origem deste comportamento: "Porque estas mariposas (ou vários outros insetos) buscam a luz, se quando chegam elas giram em volta até morrer?". A resposta é: elas não buscam a luz. Elas sofrem um problema de orientação e acabam erradamente voando em direção a luz.

Os insetos noturnos não se orientam como nós, que usamos basicamente a visão procurando por pontos conhecidos na fisionomia do ambiente. Quando os insetos noturnos usam a visão para se orientar, eles não se guiam pela fisionomia do ambiente, mas sim pelo seu ângulo de vôo em relação a um ponto fixo no espaço. No caso dos insetos, o ponto fixo geralmente é a lua. Como a lua está a uma distância enorme, ela encontra-se praticamente no infinito para estes animais. Por mais que eles voem em linha reta, jamais se deslocarão o suficiente para mudar o seu ângulo de vôo em relação à lua (esquema abaixo). Por exemplo, se eles estiverem voando em linha reta a 90 graus em relação à lua, daqui a 1 km continuarão a 90 graus. E se quiserem voltar, é só voar a 270 graus, ou 90 graus no sentido contrário. Assim elas conseguem saber para onde estão indo e para onde devem virar se quiserem voltar, ou quanto devem virar se quiserem fazer um círculo.
Mas o que acontece quando os insetos vêm lanternas ou lâmpadas, para eles pontos luminosos tão fortes ou mais ainda que a lua? Eles acabam se confundindo. Estes pontos, mesmo que imóveis, não são fixos no espaço. O ângulo de vôo em relação a estes objetos muda com o deslocamento do animal. Se eles se deslocarem em linha reta a 90 graus de um objeto que está a 200 metros de distância, depois de 100 metros seu ângulo terá aumentado cerca de 22 graus e depois de 200 metros, terá aumentado 45 graus (esquema abaixo). Como os insetos acham que esta lâmpada também é um ponto fixo no espaço, quando o ângulo do seu vôo aumenta, eles tentam manter o mesmo ângulo, no intuito de voar em linha reta. Mas o que acontece é justamente o oposto. Com estas correções de ângulo eles acabam fazendo uma curva, voando em círculos, achando que continuam a voar em linha reta.
Mas isto só explica porque eles voam em círculos. Mas porque eles se aproximam da luz? Na realidade nem todos os insetos se aproximam da luz. Alguns se aproximam e outros se afastam, em círculos, da luz. Isto acontece porque nem todos corrigem igualmente o seu ângulo de vôo, afinal, uma correção precisa do ângulo é muito difícil. Alguns exageram um pouquinho na correção deste ângulo, resultando em um vôo convergente, acabando com o animal colidindo com a fonte de luz (esquema abaixo)
Estes são os que nós vemos atraídos pela nossa lanterna. Outros não corrigem totalmente o ângulo de seu vôo, girando também em círculos ao redor da fonte de luz, mas de forma divergente (esquema abaixo). Estes animais girarão, girarão e acabarão por se afastar da lanterna, não vindo cair no nosso prato de sopa.
 

Webventure, AventuraBrasil, Coluna Eco, 14 de dezembro de 2001

Falsos Olhos

Vários animais têm falsos olhos pintados em seu corpo. Eu já tomei muitos sustos andando em florestas tropicais, ao ver uma grande borboleta ou mariposa com estes olhos nas asas, escondidas no meio da vegetação. Uma vez, na Mata Atlântica do Espírito Santo, eu vi uma mariposa camuflada no tronco de uma árvore, mas quando ela percebeu que havia sido descoberta e que eu me aproximava, abriu suas asas de cima e desvendou grandes e redondos olhos amarelos nas asas de baixo. Por um instante eu titubeei. Nas borboletas e mariposas, cujas escamas formam desenhos, os mais variados possíveis, falsos olhos são comuns. Mas outros animais, como sapos e peixes também costumam ter espécies com falsos olhos. O tamanho e a forma destes olhos varia muito. Em geral são grandes, muito maiores que os do próprio animal, mas também podem ser uma série de pequenos olhinhos. Alguns são complexos, com pupilas e até aro em volta da íris. Outros são simples manchas negras deitadas em um fundo mais claro.

A idéia por trás de todos estes olhos é sempre a mesma. Enganar um possível predador, fazendo-o achar que se encontra na presença de algo ainda maior que ele. De preferência do seu predador. O instinto de caça é muito forte nos animais. Eles são muito bem adaptados a perseguir e capturar sua presa de forma eficiente, rápida e normalmente sem falhas. Entretanto, o instinto de sobrevivência, de escapar dos seus predadores, costuma ser ainda mais forte. Ao ver um olho bem maior que o seu, ficar vivo até a próxima refeição torna-se mais importante que conseguir esta refeição. 


Só que por mais sofisticados que sejam, falsos olhos não costumam enganar um predador por muito tempo. Afinal, até o mais elaborado dos falsos olhos não resiste a uma segunda olhada. Entretanto, a idéia não é enganar o predador indefinidamente. A função dos falsos olhos é iludi-los por tempo suficiente para que uma segunda estratégia de defesa seja empregada, em geral a fuga. Uma borboleta que faça um bem-te-ví recuar por tempo suficiente para bater suas asas e sair voando terá muito mais chance de escapar que outra borboleta que não distraia a atenção do predador, sendo capturada de imediato. Lagartas que façam com que um macaco hesite, permitindo que elas se joguem do ramo, terão mais chance de sobrevivência que lagartas com cara de uma suculenta e saborosa refeição, cujo predador, não tirará os olhos de cima até apanhá-la, em geral de surpresa.

Mas a possibilidade de ter aumentada infimamente a possibilidade de escapar não parece o suficiente para justificar o surgimento destes falsos olhos, que certamente têm suas desvantagens e o seu custo. Os olhos são uma imagem organizada e reconhecível, e por isto costumam chamar mais atenção que padrões uniformes de coloração, que se camuflam com o ambiente. E não ser enxergado é, sem dúvida, mais vantajoso. Além disso, há um custo energético envolvido na produção de formas tão complexas. Energia esta que poderia ser economizada em uma cor simples, igual ao ambiente, camuflada. Entretanto, mesmo que estes falsos olhos aumentem apenas minimamente a chance de sobrevivência e transmissão da sua coloração para os descendentes, ajudando apenas um entre centenas de indivíduos semelhantes a cada geração, este pequeno aumento é suficiente para favorecer os animais com esta característica na população, selecionando-os. Com isto, em espécies com taxas elevadas de ataques por predadores que podem se espantar com olhos maiores que os seus, estas características tendem a se manter em detrimento de outras que colaboram menos com a sobrevivência dos indivíduos.

E, como diz o Walter, um velho amigo meu, professor de educação física acostumado a lidar com crianças que têm a incrível habilidade de se colocar em situações de risco: 'Para os sobreviventes a diferença é de 100%'. Neste caso pode ser o beneficiado pela dúvida do predador.

Webventure, AventuraBrasil, Coluna Eco, 11 de janeiro de 2002

Dupla Defesa: cor e sabor protegem besouro

besouro Chrysomelidae em flor
 "Por causa de sua coloração, este besouro da família Chrysomelidae seria rapidamente detectado na maioria dos ambientes de uma floresta. Mas no arbusto em que vive, junto às flores da mesma cor, sua principal defesa é não ser percebido. Mais: cores fortes ilustram seu sabor desagradável para eventuais predadores. 'Se ele fosse visto em uma coleção científica, pensaríamos que sua cor serve apenas como uma advertência. Daí ser importante observar o inseto em seu ambiente natural', diz a bióloga Gabriela Chaves, doutoranda da Universidade Estadual de Campinas."

National Geographic Brasil, Agosto de 2001, página 15

Beleza Ameaçada

Heliconius nattereri em flor de Lantana camara
No final da década de 60, um coletor de insetos assombrou os pesquisadores de borboletas ao encontrar um exemplar da bela Heliconius nattereri (acima). Não tendo sido vista por quase 50 anos, presumia-se na época que ela estivesse extinta. Mas o perigo não cessou. As borboletas estão agora sendo vítimas da destruição crescente do ambiente em que vivem, as matas de encosta nas regiões serranas do Espirito Santo, sul da Bahia e leste de Minas Gerais. "O problema é o fato de ela restringir-se a um ambiente muito específico", diz o biólogo Cláudio Patto, que estuda a espécie. 

National Geographic Brasil, Novembro de 2000, página 28

domingo, 8 de janeiro de 2012

Aranhas

Existem pelo menos 40000 espécies de aranhas já descritas no planeta, e cerca de 1/3 destas podem ser encontradas no Brasil. Mas aqui somente 3 aranhas são de interesse médico, possuindo veneno ativo no homem:
- Armadeira;
- Aranha Marrom;
- Viúva Negra;
Outras duas aranhas brasileiras podem causar acidentes doloridos, mas sem sérios riscos à saúde...
Conhecendo
Reino: Animalia
Philo: Arthropoda
Classe: Aracnidae
Ordem: Araneae
Todas as aranhas são da ordem Araneae, sendo da mesma classe dos escorpiões, dos opiliões e dos ácaros e carrapatos. Apesar de muita gente inclui-los junto com os insetos, são um grupo diferente, sendo pais próximos aos crustáceos - carangueijos e lagostas.

Assim como os insetos, aranhas são artrópodes, animais invertebrados articulados, com carapaça externa feita de quitina. Mas diferentemente dos insetos que têm 6 patas, as aranhas e toda a classe dos aracnideos possui 8 patas. Outra característica que os distingue dos insetos é a junção da cabeça com o tórax. Aranhas possuem apenas um cefalotórax e um abdomem. A grande maioria das aranhas possui vários olhos e sua posição e tamanho podem ser usados na sua identificação. Todas as aranhas produzem seda, mas nem todas constroem teias. Algumas usam a seda apenas para construção do saco de ovos, para forrar o ninho ou para se pendurarem. Algumas aranhas constroem teias complexas, usando vários tipos de seda, cada uma com uma finalidade da montagem da teia. A respiração das aranhas pode ser traqueal, com pequenos tubulos que levam o ar diretamente até as células, ou pulmonar, com pulmões em forma de livro. As aranhas grandes costumam ter pulmões, as pequenas, traquéias. A maioria têm pulmões e traquéias. Outra característica das aranhas é que todas são predadoras. Elas têm uma glândula de veneno que usam para imobilizar e matar sua presa. Este veneno é injetado pelas cheliceras, situadas perto da boca. Além das cheliceras, aranhas têm palpos, que têm funcão táctil e para manipular o alimento. Nos machos têm funções reprodutivas. As aranhas também têm uma digestão bastante particular, que começa já dentro do corpo da presa. Depois de pré-digerida em seu próprio coropo, a aranha suga o interior da presa já meio liquefeito.

Aranhas podem ser divididas em duas categorias quanto ao hábito de capturar presas:
- Vida livre, que não constroem teias e caçam ativamente. Elas tecem seda apenas para fazer linhas de arrasto, ninhos, casulo de óvos, mas elas não usam a seda para capturar a presa. Aranhas de vida livre costumam ter pernas mais fortes e olhos mais desenvolvidos. Exemplos de aranhas de vida livre são as Caranguejeiras, as Tarântulas, as Papa-Mosca, e as Armadeiras.
- De teias, que usam teias para capturar suas presas. Constroem vários tipos de teias: geométricas, lençol, funil... As teias são características de famílias particulares. De todas as teias, as geométricas ou orbiculares são as mais conhecidas, sendo sempre associadas com as aranhas. Aranhas que constroem teias são aéreas, tendo pernas finas para escalar na seda fina. A visão é menos desenvolvida. Em compensação são capazes de detectar e interpretar com facilidade os vários tipos de vibração de uma teia.
Aranhas também podem variar o período de atividade.
- Algumas aranhas, ativas durante o dia, constroem suas teias ao nascer do sol e 'recolhem' no fim do dia.
- Outras aranhas caçam ativamente a noite, usando seus grandes olhos para verem na escuridão.
- Certas aranhas não ligam se é dia ou noite. Elas vivem dentro de cavernas, em escuridão total, encontrando suas presas táctilmente.

Aranhas ocupam praticamente todos os ambientes terrestres. De florestas tropicais úmidas a desertos, de savanas a montanhas, de pântanos às regiões árticas. Na realidade, aranhas são muito boas na ocupação de novos lugares. Em ambientes estéreis, como na recém formada ilha de Krakatoa, em Java, as aranhas costumam ser os primeiros seres vivos a chegarem. Apesar da vastidão de mar separando Krakatoa da fonte de colonização mais próxima, e delas não terem asas, as aranhas chegam lá voando. Elas flutuam com uma técnica de balonismo, esticando uma linha de seda ao vento, que é levada como uma pipa, e junto com ela, a aranha. E não é um vôo totalmente descontrolado. Recolhendo ou soltando mais seda elas regulam a altitude do vôo.

A teia
Todas as aranhas produzem sedas. Algumas aranhas usam a seda para construir teias complexas como a geométrica da foto ao lado. Outras aranhas fazem lençóis sobre o qual esperam ou funis para capturar suas presas. Outras aranhas não usam teia para capturar suas presas. Mas ainda usam seda para forrar ninhos, para proteger ovos ou para soltar fios de arrasto. A diferença entre aranhas que usam teias para capturar suas presas e as de vida livre separam as aranhas em dois grandes grupos de hábitos de vida.

Tipos de Seda
A seda é uma matéria proteinácea e o seu tipo depende da glândula onde esta foi feita e do modoque ela foi penteada nas fiandeiras:
A seda pode ser macia e fofa, resistente e não pegajosa, forte e grossa, pegajosa como cola, fina e forte.

Tipos de Glândulas
Cada glândula produz um tipo específico de seda:
Aciniformes: seda macia e fofa dos apoios centrais e da forração do saco de ovos;
Ampuladas: fios não pegajosos e fortes das teias geométricas ou orbiculares;
Piriformes: discos de fixação da seda fina;
Agregadas: cola que dá viscosidade à espiral da teia orbicular;
Flageliformes: fios secundários das espirais da teia orbicular;
Cilíndricas: material para o saco de ovos;

Tipos de Teias
- As mais conhecidas teias são as orbiculares ou também conhecidas como geométricas. São as teias circulares, que ficam penduradas, normalmente verticalmente, esperando algum inseto desatento ficar preso. Ela é também a teia mais complexa e que utiliza o maior tipo de sedas. Fios de seda ultra-finos são usados como linha de arrasto, sendo soltas e levadas pelo vento e se prendendo em algum lugar longe de onde foram lançadas. É como a teia começa, ligando dois pontos distantes. Há também a seda ultra-forte e não pegajosa que forma a estrutura da teia. Há ainda uma seda um pouco mais fina que serve para montar a espiral. Depois, é colocada a seda grudenta para montar a espiral pegajosa. Linhas finas formam discos para fixar tudo no lugar e pronto;
- Teias em forma de funil ou de lençol são menos conhecidas e não são imediatamente associadas às aranhas. São teias planas e bem fechadas, exatamente como um pedaço de tecido. Ele fica estendido a partir da boca do ninho, em forma de funil. Quando a presa cai no lençol, fica presa, enroscada em fios transversais que ajudam na fixação do lençol e a segurar a presa.
- Teias em forma desorganizada. Parecem mais um amontoado de linhas cruzadas e pegajosas;
- Teias de lançar. Uma bolinha de seda grudenta na ponta de uma linha, que é jogada, gruda no inseto e este é 'pescado'.
- Teias de arrasto. Usadas para ligar a aranha a um lugar distante, é fininha e leve. Quando esticada é levada pelo vento e gruda. Normalmente é o começo da teia geométrica. Pode também ser usada por pequenas aranhas jóvens para 'voarem' como em um balão. Elas soltam a seda que voa como uma pipa. E quando a linha voa, leva junto a arainha. Desta forma, aranhas conseguem colonizar lugares inóspitos e muitos distantes. Foram um dos primeiros seres vivos a chegarem a recém formada ilha de Krakatoa, em Java.

As perigosas

Qual é o real perigo?
Como nós já mensionamos exaustivamente nas páginas anteriores, a grande maioria das aranhas encontradas no Brasil é inofensiva para o homem, ou no máximo pode causar acidentes dolorosos mas inofensivos*, como é o caso das Caranguejeiras e das Tarântulas como a da foto ao lado.
* Podem ser perigosos em crianças e idosos, requerendo atenção médica.
Além da baixa proporção das espécies 'perigosas', em ambientes naturais, como nas florestas, a comunidade de aranhas se encontra em equilibrio, com números controlados e relativamente baixos. Mas em ambientes alterados, como próximo a roças e pastagens ou em quintais, o número de aranhas pode aumentar e com elas, o número das espécies potencialmente perigosas ao homem. Mesmo assim, nem todas as aranhas que entram em casa ou que encontramos no quintal são 'perigosas'. A grande maioria delas, inclusive as 'perigosas' são importantes no ambiente em que vivem, mesmo os alterados pelo homem, pois são predadoras vorazes, principalmente de insetos, ajudando a controlar as populações destes animais que podem muitas vezes ser pragas.

Profilaxia (Baseado no Folder do Núcleo Regional de Ofiologia de Goiânia)

Para diminuir a incidência de aranhas e também de escorpiões perto e dentro de casa, recomenda-se MANTER jardins e quintais limpos, evitando o acúmulo de entulho, lixo, material de contrução, incluindo tijolos, madeira e pedras. EVITAR folhagens densas junto de casa e manter a grama cortada. LIMPAR terrenos baldios pelo menos na faixa de 1 a 2 metros junto ao muro ou cercas das casas; VEDAR portas e janelas, principalmente ao amanhecer e ao anoitecer;
Para evitar picadas, é bom SACUDIR roupas, sapatos e luvas antes de usá-los, pois aranhas se escondem ai e podem picar ao serem espremidas contra o corpo;NÃO por a mão em buracos, pedras, troncos e tijolos antes de verificar a existência de aranhas ou outros animais peçonhentos; EVITAR contato direto com aranhas, principalmente se você não sabe identificar propriamente as aranhas perigosas. Lembre-se que apesar de dificilmente as caranguejeiras picarem alguém, há casos de picadas e elas são bem dolorosas. FICAR ATENTO a crianças na idade que pegam que encontram pela frente. Mas não vale a pena traumatizar a criança com o perigo das famigeradas aranhas.

Em Caso de Acidentes
Em caso de picadas por Armadeiras, Aranhas Marrons ou Viúva Negras, se possível, capturar o animal e levar ao médico ou ao Centro de Controle de Intoxicações, para confirmação de identificação. A correta identificação possibilita a aplicação de soro específico, se necessário, diminuindo os efeitos colaterais da aplicação do soro.
Em caso de picadas por aranha desconhecida, procure o médico, principalmente em caso de dor ou no caso de surgimento de feridas mais feias no local.
Nunca coloque no local afetado nada que possa vir a causar infeções, como alho, teia de aranha, folhas, fumo ou outros processos curativos da cultura tradicional;
Nunca corte ou fure o local afetado, nem esprema, aperte ou sugue o local na tentatica de retirar o veneno.
Procure o seu médico, o Centro de Controle de Intoxicações ou o Posto de Saúde mais próximo.

Armadeiras: Phoneutria
As armadeiras chamam-se assim por causa do hábito de se apoiarem nas patas traseiras e levantarem as outras, em uma posição de ataque, prontas para dar o bote. Armadas. São aranhas grandes e muito agressivas . Ficam armadas quando acuadas, e podem pular até 30 cm para dar o bote. E apesar de não procurarem problemas com os seres humanos, são responsáveis por cerca de 75% dos acidentes no Brasil. E o pior é que seu veneno é ativo no homem. Sua picada pode ser perigosa e pode ser necessário cuidados médicos.
São aranhas grandes. O corpo pode chegar a 5 cm de comprimento e considerando as patas, podem chegar a 15 cm. São cobertas por pelos cinzentos e curtos. Sua principal característica é a posição armada que apresenta quando ameaçada.
Seu veneno é ativo no homem. Isto significa que diferentemente de outras aranhas cujo veneno doi, mas não causa maiores estragos, seu veneno atua sobre o nosso sistema nervoso. Sua picada causa dor intensa e imediata no local. Em alguns minutos esta dor irradia-se para todo membro afetado. Pode ocorrer inchaço no local, náuseas, vômitos, dores de cabeça e tremores musculares. Pode ser fatal em crianças e idosos. Nos casos mais graves pode ocorrer choque neurogênico, causado pelo excesso de dor.

O tratamento em 95% dos casos de picadas de Armadeiras é apenas sintomático, tratando apenas os sintomas do envenenamento, com uso de anestésicos locais. Nos outros 5% dos casos aplica-se soro quando:
- O acidente é com crianças pequenas ou idosos com menor resistência;
- A dor é persistente mesmo depois da aplicação de anestésicos locais;
- Ocorre choque neurogênico;
A soroterapia é realizada com soro antiaracnídico polivalente, utilizando a quantidade de soro necessária para a neutralização de todo o veneno inoculado. É IMPORTANTE PROCURAR UM MÉDICO!

As armadeiras são aranhas de vida livre, não construindo teias. Andam pelo solo a procura de presas, especialmente à noite. Nestas andanças podem entrar em casa para se abrigar, especialmente nos dias mais frios. E uma vez em casa, podem entrar se esconder em roupas e principalmente nos calçados. Grande parte dos acidentes ocorrem quando são prensadas nas roupas ou nos calçados. Do lado de fora podem ser encontradas em seus esconderijos, entre madeiras, entulhos, tijolos, ou pedras no jardim. Para evitar ser picado por ela é preciso minimizar o contato:
- Vede bem as portas e janelas da casa, especialmente no anoitecer e durante a noite para que elas não entrem em casa;
- Mantenha os arredores de casa limpos, sem entulhos nos quintais e jardins, ou madeiras, tijolos ou pedras;
- Vistorie as roupas, calçados e luvas antes de usar, especialmente as que ficam expostas onde a aranha pode passar, como do lado de fora de casa;
- Se tiver crianças na idade de pegar tudo que ver pela frente, vigie-a ou aumente ao máximo a vedação da casa ou do cômodo usado pela criança;
- Se a ocorrêmcia for muito elevada, vale a pena colocar um mosquiteiro vedando o berço da criança.

Aranha-Marrom: Loxosceles
As aranhas marrons são as menos agressivas das 3 'perigosas' que ocorrem no Brasil. São calmas e só costumam causar acidentes quando prensadas contra o corpo ou quando tocadas e molestadas. São aranhas pequenas, podendo ser facilmente confundidas com outras aranhas marrons que não são perigosas ou que podem apenas ter picadas doloridas como a Tarântula. Mas diferentemente destas, a picada da Aranha-Marrom é muito perigosa, causando bastante dano no local e podendo até levar à morte.

São aranhas pequenas, com 6 a 18 mm de corpo, podendo chegar, com as finas e delgadas pernas a 3 cm. Têm pelos sobre o corpo, mas não tanto quanto as Caranguejeiras e as Tarântulas, são amarronzadas, de cor quase totalmente uniforme. Têm apenas uma mancha no cefalotórax em forma de violino. Têm 6 olhos arranjados em 3 pares. Fazem teias em forma de lençol, mas podem ser encontradas longe de teias. Têm hábitos noturnos.

Seu veneno é muito ativo no homem, possuindo duas ações:
- Proteolítico, destruindo proteínas, agindo sobre os tecidos da pele e dos músculos;
- Homeolítico, destruindo células do sangue, podendo causar problemas renais;
Sua picada não é dolorosa e pode facilmente passar desabercebida. E este é o seu maior perigo. Entre 12 a 24 horas após a picada, aparece uma queimação no local da picada, vermelhidão, inchaço e até febre. Com o passar do tempo a ferida na picada vai se agravando, ocorrendo necrose local. Aparecem bolhas, o tecido fica vermelho escuro ou roxo e aos poucos a ulceração vai tomando conta de toda a área afetada. Também entre 12 e 24 horas após a picada, aparecem sintomas de urina escura e icterícia, devido à destruição de células do sangue, que pode evoluir para uma insuficiência renal agúda.

É necessário tratamento MÉDICO IMEDIATO. O tratamento é feito com soro específico antiloxoscélico, e também com hidratação do paciente para evitar insuficiência renal, analgésicos e curativos frequêntes no local da ferida. A lesão demora muito para cicatrizar, e as vezes pode ser necessária uma cirurgia plástica reparativa no local.
Sua picada é perigosa, necessitando de auxilio MÉDICO URGENTE.

As Aranhas-Marrons podem ser encontradas em quaisquer ambientes, tanto urbano, rural ou selvagem. Podem ser sedentárias ou de atividade noturna. Fazem teias em forma de lenços, mas podem ser encontradas também longe delas em frestas, entulho ou madeiras encostadas. Costumam se abrigar em vestimentas velhas, ou mal acondicionadas. Roupas, calçados e luvas largados no quintal ou jardim são lugares apreciados e são os responsáveis por grande parte dos acidentes, esmagando-as contra o corpo quando vamos vestir ou pegar a roupa.
Para evitar ser picado por ela é preciso minimizar o contato e principalmente tomar muito cuidado ao manusear entulhos, madeiras e roupas em jardins e quintais.
- Vede bem as portas e janelas da casa para que elas não entrem em casa;
- Vistorie as roupas, calçados e luvas antes de usar, especialmente as que ficam expostas onde a aranha pode passar, como do lado de fora de casa;
- Vistorie qualquer peça de entulho ou madeira antes de por a mão. De preferência usar luvas grossas;
- Se tiver crianças na idade de pegar tudo que ver pela frente, vigie-a ou aumente ao máximo a vedação da casa ou do cômodo usado pela criança;

Viúva Negra: Latrodectus
As aranhas viúva-negras, têm este nome devido a sua cor e também porque os machos normalmente morrem após a cópula e a fêmea os devora. São aranhas calmas, que vivem em teias irregulares, e não costumam atacar. Mas quando o fazem, seu veneno é altamente ativo no ser humano, necessitando de atendimento médico imediato.

São aranhas pequenas, com 5 a 18 mm de comprimento, negras como o piche, com uma mancha avermelhada em forma de ampulheta na parte ventral do abdomen. constroem teias irregulares ao redor de 1 metro de altura, onde podem ser encontradas. Podem também ser encontradas em fendas e na vegetação. Sua atividade é diurna, apesar dos machos, não peçonhentos, poderem pelambular a noite.

Seu veneno é muito ativo no homem. Seu veneno atua sobre o Sistema Nervoso Central. A picada doi intensamente, irradiando a dor para o restante do corpo. Não ocorre lesão no local da picada. Os sintomas da picada podem evoluir para convulsões tetânicas (contrações musculares intensas), diminuição dos batimentos cardíacos e da pressão arterial. Em casos mais graves podem causar parada respiratória e morte.

É necessário tratamento MÉDICO IMEDIATO. O tratamento é feito com soro específico antilatrodéctico, relaxantes musculares, analgésicos e bloqueios anestésicos. É importante a identificação, portanto, caso não representar mais riscos, é importante capturar o animal para uma apropriada identificação pelo médico ou no Centro de Controle de Intoxicações.
Sua picada é perigosa, necessitando de auxilio MÉDICO URGENTE.

As Viúvas Negras podem ser encontradas em quaisquer ambientes, tanto urbano, rural ou selvagem. Podem ser sedentárias ou de atividade diurna. Fazem teias irregulares, mas podem ser encontradas também longe delas em frestas, entulho ou madeiras encostadas. Podem se abrigar em vestimentas velhas, ou mal acondicionadas. Roupas, calçados e luvas largados no quintal ou jardim são lugares apreciados e são os responsáveis por parte dos acidentes, esmagando-as contra o corpo quando vamos vestir ou pegar a roupa.
Para evitar ser picado por ela é preciso minimizar o contato e principalmente tomar muito cuidado ao manusear entulhos, madeiras e roupas em jardins e quintais.
- Vede bem as portas e janelas da casa para que elas não entrem em casa;
- Vistorie as roupas, calçados e luvas antes de usar, especialmente as que ficam expostas onde a aranha pode passar, como do lado de fora de casa;
- Vistorie qualquer peça de entulho ou madeira antes de por a mão. De preferência usar luvas grossas;
- Se tiver crianças na idade de pegar tudo que ver pela frente, vigie-a ou aumente ao máximo a vedação da casa ou do cômodo usado pela criança;

Caranguejeiras: Theraphosidae

As caranguejeiras são as maiores e mais robustas aranhas. Seu tamanho, que pode chegar a 28cm, incluindo as pernas, impressiona e amedronta facilmente. Mas apesar do seu tamanho e da sua aparência tenebrosa, são aranhas em sua maioria dóceis e raramente causa acidentes com picadas. Mas quando causa, é bastante dolorosa, devido à quantidade de veneno e ao tamanho da quelícera. Felizmente seu veneno não é ativo no ser humano, sendo necessária atenção apenas em caso de dor extrema, especialmente em crianças e idosos. Sua principal defesa são os pelos, duros e fortes. Algumas aranhas lançam estes pelos quando molestadas, que podem causar irritação e alergia em algumas pessoas. Devido à sua docilidade, costumam ser criadas como bicho de estimação e as vezes até manuseadas. É preciso cuidado pois algumas espécies como a chilena Grammostola rosea são muito calmas, enquanto outras, como a mexicana Brachypelma emilia, já são mais agressivas.

Tarântulas: Lycosidae

As tarântulas verdadeiras não são as grandes e assustadoras caranguejeiras, como costumamos chamar. Elas são bem menores e menos assustadoras. Assim como as caranguejeiras, não têm veneno ativo no homem. Não são tão calmas, mas também não são agressivas. Dificilmente causam acidentes, e sua picada, apesar de dolorosa, não evolui para quadros mais graves. As vezes aparece uma vermelhidão, conhecida como cobreiro. Sua identificação é relativamente fácil. Muitas espécies possuem uma seta no abdomen.
 

Formigas: guia quase completo

Os insetos dominam o mundo, com a maioria das espécies e a maioria dos indivíduos sobre a face da terra. E as FORMIGAS dominam o mundo dos insetos. Não em número de espécies, mas quantidadede indivíduos. Cerca de 75% da biomassa de insetos em uma floresta são de abelhas, vespas e principalmente, formigas. Além disso, as formigas são uns dos principais animais sociais, com a maior organização conhecida...
Reconhecendo
Formigas são himenópteros, juntamente com as vespas e abelhas. Formigas são a família Formicidae, apenas uma das cerca de 91 famílias da ordem Hymenoptera. E identificá-las não é um grande problema. A princípio todas têm a mesma cara, e até uma criança sabe olhar para elas e dizer: uma formiga. Mas para tirar qualquer dúvida, basta olhar a forma da sua cintura, os dois segmentos abdominais que unem o tórax ao abdômen.

O primeiro segmento abdominal (ou os dois primeiros segmentos abdominais) são em forma de nódulo, ou com uma corcunda, diferindo dos demais segmentos. Antenas com 6 a 13 segmentos, com uma forte angulação em forma de cotovelo, pelo menos nas fêmeas. O primeiro segmento da antena bastante longo. Insetos sociais, com diferenciação de castas. Rainhas e machos em geral têm asas, pelo menos em um período da vida. Venações das asas normais ou muito reduzidas.

E em termos práticos, apenas poucos artrópodos têm a cara de formiga. Alguns percevejos e aranhas mimetizam formigas, mas fica fácil distingui-los pois o primeiro têm aparelho bucal sugador e não mandíbulas e o segundo não é um inseto, têm 8 patas e tórax emendado com a cabeça. Uma vespa áptera (sem asas) chamada Velvet Ant, ou formiga veludo, parece com uma formiga, mas ela é colorida de amarelo ou vermelho e nenhuma formiga têm aquelas manchas. E a cintura e as antenas são bem diferentes.

Identificar a formiga já é outra história. Existem quase 9000 espécies descritas em pouco menos de 300 gêneros. Para identificar os gêneros existe uma chave no livro The Ants que está na nossa literatura sugerida. Agora, para identificar espécies, a não ser em casos de espécies muito comuns e diferentes, só com a utilização de chaves específicas. E as vezes são necessárias até análises químicas. Mas para o nosso uso corriqueiro, saber qual é o gênero, as vezes a tribo, já é o suficiente. 

A importância 1.
"Formigas estão por toda parte, mas só eventualmente são percebidas. Elas percorrem boa parte do ambiente terrestre como principais revolvedoras de solo, canalizadoras de energia e dominadoras da fauna de insetos, apesar de só serem mencionadas brevemente nos livros-texto de ecologia. Elas empregam as mais complexas formas de comunicação química entre os animais e sua organização social fornece um esclarecedor contraste àquela dos seres humanos.
Medidas recentes sugerem que cerca de um terço de toda a biomassa animal da floresta Amazônica de terra firme é composta de formigas e cupins, com cada hectare de terra contendo mais de 8 milhões de formigas e um milhão de cupins. Estes dois tipos de insetos, juntamente com abelhas e vespas correspondem a algo em torno de 75% da biomassa animal. Formigas e cupins, de modo semelhante, dominam as florestas e savanas no Zaire. Apesar de medidas de biomassa não terem sido feitos em nenhum outro lugar, nossa impressão subjetiva, é de que os insetos eussociais, principalmente as formigas, são comparativamente abundantes na maioria dos principais ambientes ao redor do mundo.

Por exemplo, na savana da Costa do Marfim, a densidade de colônias de formigas é de 7000 colônias e 20 milhões de indivíduos por hectare, com a espécie Camponotus acvapimensis chegando a ter 2 milhões. Tais hábitats africanos são freqüentemente visitados por formigas de correição, cuja colônia pode chegar a ter 20 milhões de operárias. E as formigas de correição estão longe de ser o máximo. A 'supercolônia' da formiga Formica yessensis, na Costa Ishikari de Hokkaido já foi reportada com 306 milhões de operárias e 1 milhão de rainhas, vivendo em 45000 ninhos interligados em um território de 2.7 quilômetros quadrados.

A diversidade local das formigas também é substancial, excedendo e muito a dos outros insetos sociais, refletindo a maneira pela qual as espécies de formigas evoluíram saturando uma ampla gama de nichos de alimentação no solo e na vegetação. No Rio Basu, na floresta tropical úmida baixa da Papua Nova Guiné, Wilson coletou 172 espécies de formigas, pertencendo a 59 gêneros em uma área de uma milha quadrada (2.6 km2). Outro pesquisador registrou 219 espécies em 63 gêneros em uma milha quadrada em uma plantação de cacau e floresta em Tafo, em Ghana, enquanto outro achou 272 espécies, em 71 gêneros em uma área comparável em Agudos, São Paulo, Brasil. Em dois anos de trabalho de campo no rio Yayapichis no Perú, um pesquisador encontrou 350 espécies em 71 gêneros. Wilson identificou 43 espécies em 26 gêneros em apenas uma árvore na Amazônia Peruana.

O impacto das formigas nos ambientes terrestres é igualmente grande. Na maioria dos hábitats elas estão entre as maiores predadoras de outros insetos e pequenos invertebrados. Formigas cortadoras de folhas são um dos principais herbívoros e são pragas destrutivas na América Central e do Sul. Pogonomyrmex e outras formigas estão entre os principais predadores de sementes, competindo efetivamente com mamíferos por esta fonte de alimento nos desertos do sudoeste dos EUA. Em outra zona adaptativa, formigas são suficientemente densas para reduzir a densidade de aranhas de solo e besouros carabeídeos, especialmente quando estes artrópodos são especializados a viver no chão ou na vegetação baixa. Onde montanhas são frias o bastante para inviabilizar a persistência de formigas, a população destas aranhas e destes besouros aumenta enormemente.

Não é nenhuma surpresa que as formigas alteram seu ambiente profundamente. Nas florestas da Nova Inglaterra elas revolvem a mesma quantidade de solo que minhocas e superam estas em florestas tropicais. Nas florestas temperadas de Nova York elas são responsáveis pela dispersão de cerca de 1/3 das espécies de plantas herbáceas, que representam cerca de 40% da biomassa sobre o solo. Elas ajudam a ampliar a floresta em rocha nua na Finlândia e vegetação de restinga em lagos de água salgada na Rússia. Como as formigas carregam para o ninho restos de animais e plantas, misturando este material com o solo escavado, a terra ao redor destes ninhos apresenta maior índice de carbono, nitrogênio e fósforo. O chão então fica repartido em áreas com variação de nutrientes, criando um gradiente de ocupação de diferentes espécies de plantas. Os grandes ninhos de algumas formigas cortadeiras como o gênero Atta, têm um grande impacto nos ambientes locais. Nas florestas tropicais, onde menos de 0.1% dos nutrientes permeia mais que 5 cm abaixo do solo, cortadeiras carregam grandes quantidades de material vegetal fresco para as câmaras do ninho as vezes até 6 metros abaixo do chão, aumentando entre 16 e 98 vezes a entrada de 13 elementos através do solo em comparação com áreas não perturbadas pelas formigas cortadeiras. Este enriquecimento resulta em um aumento de 4 vezes no crescimento de raízes finas nestas áreas.

Finalmente, a abundância e a dominância ecológica das formigas se equivale a sua enorme distribuição geográfica. Várias das 8800 espécies descritas são encontradas do círculo polar ártico as áreas mais austrais da Tasmania, Terra do Fogo e África. Não são encontradas apenas na Antártica, Groelândia, Islândia, Polynesia a leste de Tonga e outras poucas ilhas remotas no Atlântico e no Índico. Algumas espécies se adaptaram muito bem também a ambientes perturbados. A maioria das cidades nos trópicos são residência de espécies invasoras, levadas pelo homem em seu comércio mundial. A pequena myrmecine Tetramorium simillimum pode ser facilmente encontrada na Alexandria como nas praias do Taiti, assim como várias outras espécies cosmopolitas."

Formigas de Casa
No Brasil é muito comum encontrar formigas andando dentro de casa. Elas atacam o açucareiro, ou outro doce que fique dando sopa na cozinha, atacam a comida do cachorro ou do gato, e até o sabonete, em situações mais extremas. Nos quintais podemos encontrar ninhos de lava-pé, cuja picada coça bastante e centenas delas, quando pisamos no formigueiro, coçam mais ainda. O jardim também pode sofrer algum estrago com as formigas cortadeiras, que cortam as folhas e as carregam para dentro de seus ninhos para criar o fungo que cultivam. É fácil encontrá-las quando fazem uma trilha cheia de folhinhas verdes andando como se estivessem sozinhas.


Mas apesar de incômodas, as formigas não fazem tanto mal assim. Elas são predadoras vorazes de insetos, livrando nossa casa da presença destes. E lembre-se que baratas e traças são insetos e estão entre pratos favoritos de várias das formigas domésticas. Sempre que eu vejo formigas em casa e penso em acabar com elas eu lembro: onde tem formigas costuma não ter baratas. Então elas ficam.

E quando elas estão perturbando muito o açucareiro, sempre há alternativas para parar este ataque. Colocar o açucareiro em um prato com água, fazendo um tipo de calabouço medieval é uma boa solução, apesar de não ser muito prático: 'Me passa o açucareiro, mas cuidado para não derramar a água do prato.' Mesmo assim, funciona. E para aumentar a eficiência, um pouco de detergente na água ajuda muito. Formigas não passam por detergente pois dissolve sua carapaça. Isto me lembra que para desviar uma coluna de formigas, basta fazer uma barreira de detergente líquido. Colocar o açucareiro sobre um tape-ware com louro também ajuda. Formigas têm horror a louro. Já as formigas no quintal, não há muito que fazer. Uma boa perturbada de vez em quando pode fazer elas se mudarem. Fazer isto até que a mudança seja para fora do quintal, ou pelo menos para longe da área de circulação. E para acabar com o ataque das cortadeiras, um anel de graxa em volta do tronco impede que as formigas subam. Dai basta não deixar a planta protegida encostar em nada que faça a 'ponte' para as formigas.

Cultivadoras
São também conhecidas como formigas cortadeiras, devido ao seu hábito de cortar folhas em pedacinhos de cerca de 1cm, ou saúvas, aqui no Brasil. Apesar de a princípio parecer que estas formigas se alimentam de folhas, que cortam e carregam em grande quantidade para o interior de seus grandes ninhos, não para servir de comida, mas para sua criação. Estas formigas criam fungos nas câmaras subterrâneas dos seus ninhos, alimentando-os com as folhas frescas que trazem do lado de fora. Elas preparam o material fresco antes de montar a cultura. Elas lambem e cortam as folhas em pedaços de 1 a 2 mm de diâmetro. Elas mastigam ao longo das bordas dos fragmentos até que estes fiquem úmidos e macios, as vezes adicionando uma gota de uma secreção anal à superfície. Depois, usando movimentos laterais do tarso, inserem os fragmentos no substrato onde será acrescentado pedaços do fungo de outras partes do jardim a porções do novo e recém preparado substrato. Um novo pedaço de 1 mm de diâmetro de folha recém preparada recebe cerca até 10 pedaços do fungo em cinco minutos. O novo fungo cresce rápido, cobrindo toda a superfície do pedaço de substrato em cerca de 24 horas. Este fungo serve de alimento obrigatório para os imaturos, sendo que as operárias se alimentam um pouco das folhas que cortam e as rainhas comem os fungos, assim como também de ovos tróficos: ovos colocados por algumas operárias só para alimentar a rainha.

Uma pergunta interessante que surge deste estilo de vida é como uma rainha, que funda uma nova colônia sozinha, sem levar nenhuma operária, consegue o fungo que lhe servirá de comida e para a sua prole, que ainda está nascendo?

Ela leva miscetos (pequenos pedaços reprodutivos do fungo) em uma câmara perto do seu esôfago, soltando-os no chão assim que cava a primeira câmara do novo ninho. Este fungo então cresce rapidamente e em alguns dias já estará servindo de comida para sua primeira leva de larvas.

Na África e no sul da Ásia e em outras partes do velho mundo, onde não há formigas cortadeiras ou cultivadoras Attini, há um cupins Macroterminae que ocupam o seu nicho, criando fungos para sua alimentação. Não se sabe se este padrão complementar global de distribuição é resultado de exclusão competitiva ou não. A princípio parece que não, já que as Attini modernas usam folhas frescas e excremento de insetos, enquanto os cupins usam material morto de plantas. Os attini também forrageiam sobre o solo, enquanto os cupins são primariamente subterrâneos.

Perigosas?
Formigas não têm veneno ativo no homem como algumas cobras e aranhas. Sua picada, apesar de poder ser muito dolorosa, não costuma provocar maiores estragos sistêmicos, nem locais. Em pessoas com alergia entretanto, uma picada de formiga, assim como de abelha ou vespa, pode ser muito perigoso e até fatal. Casos de picadas maciças, como acontece de vez em quando com abelhas, também poderiam ser perigosos, mas eu não tenho conhecimento de nenhum acidente com picadas maciças de formigas, uma vez que das formigas basta fugir correndo, que elas não voam atrás de nós.
Entretanto, algumas formigas, como esta Tucandeira amazônica têm uma picada tão dolorosa que os gringos a chamam de Bullet Ant, ou formiga bala. Isto porque, dizem, quem toma uma picada sente como se tivesse levado um tiro. Um pesquisador amigo meu, W.W. Benson já me relatou uma picada que levou. Ele disse estar andando e de repente estava deitado no chão com uma dor enorme. Quem estava junto disse que ele apagou por uns 30 segundos depois da picada. Segundo ele, doeu muito, mas também passou relativamente depressa. Outras ponerinae também têm picada muito dolorosa e as lava-pés, comuns nos jardins urbanos, têm uma picada ardida, que coça por um bom tempo depois da picada. Em geral tomamos várias picadas quando pisamos no formigueiro. A picada que forma uma bolhinha d'água, que, se estourada, coça mais ainda e demora ainda mais para sarar.

Vale a pena ressaltar, que pessoas alérgicas a picadas podem vir a ter sérios problemas com formigas, já que elas estão por toda parte e uma picada não é incomum. Caso seja alérgico, consulte o médico para o anti-histamínico que você deve levar consigo ou para casos mais graves, para medicações ainda mais rápidas.

Além disso, quem são 'formigófobos', lembrem que nem sempre as formigas são prejudiciais e podem até ser muito úteis.

Escravisadoras 1.
Pesquisadores no século XVIII perceberam que alguns ninhos de formigas eram formados por mais de uma espécie, o que é muito estranho visto a agressividade das formigas com espécies invasoras. É só uma espécie de formiga encontrar outra para que haja um combate mortal ou então uma fuga mais que relâmpago. Em 1810, um pesquisador chamado Huber descreveu este comportamento, descobrindo que formigas de espécies dos grupos Polyergus rufescens e Formica sanguinea invadiam o ninho de outras espécies de formigas, matavam as operárias e roubavam ovos, larvas e pupas, levando-os para o seu ninho. Lá, estes imaturos emergiam e se comportavam como operárias da sua nova casa, das formigas Polyergus ou Formica, trabalhando em várias funções do ninho.

Este comportamento foi posteriormente bem documentado e uma das melhores descrições foi feita justamente com a espécie Formica sanguinea, uma espécie Européia. Como Wheeler descreveu, estas 'formigas sanguinárias' são muito agressivas, dominando os arredores dos seus ninhos mais ricos em alimento. Elas são escravizadoras facultativas, uma vez que ninhos podem ser encontrados sem nenhuma escrava e também, operárias isoladas em laboratório são capazes de conduzir todos os afazeres do ninho, incluindo construção. De um modo geral, as sanguinea escravizam os ninhos mais próximos do seu e às vezes duas ou três espécies de escravas são encontradas no mesmo ninho simultaneamente e a composição de escravas pode variar de ano para ano. De acordo com Forel, as expedições de escravizamento são infrequentes, ocorrendo duas ou três vezes ao ano. O exército de operárias em geral sai pela manhã e retorna no final da tarde, mas isto depende da distância do ninho da sanguinea para o ninho a ser saqueado. Esta coluna de formigas se move diretamente para o ninho atacado, pelo caminho mais curto e sobre quais quer obstáculos que estiverem no caminho. Quando chegam ao ninho a ser pilhado, elas não entram de imediato. Esperam ao redor a chegada das outras formigas. Enquanto isto, as formigas atacadas preparam para se defender, e tentam quebrar o cordão de isolamento ao redor do seu ninho para poderem escapar. Elas correm com suas larvas e pupas nas mandíbulas e fogem pelo chão. As formigas sanguinárias entretanto interceptam sua fuga, pegam sua carga e começam a invadir o ninho pelas suas diferentes entradas. Elas matam as operárias inimigas apenas quando estas oferecem resistência violenta. Pegam os ovos, larvas e pupas que restaram após a tentativa de fuga e voltam para o seu ninho. Uma vez em seu ninho, elas criam as larvas que após empuparem, eclodem, vindo a se comportar como se fosse uma das formigas em seu novo ninho.

O ápice do modo de vida escravizador é atingido pelas formigas do gênero Polyergus, um grupo totalmente escravagista, derivado diretamente do gênero Formica. Elas são chamadas de formigas amazonas, apesar de não ter nada a ver com a nossa Amazônia. Wheeler novamente descreveu muito bem o comportamento desta espécie: a operária é muito brigona e podem ser distinguida das outras formicinae pela sua mandíbula em forma de estilete, sem dentes, mas pequenos dentículos. Tais mandíbulas não são adaptadas para cavar na terra ou para manipular larvas e pupas de pele fina e movê-las pelas câmaras estreitas do ninho, mas são impressionantemente aptas a perfurar a armadura de formigas adultas. As amazonas nunca escavam seus próprios ninhos ou cuidam da prole. São inclusive incapazes de obter sua própria comida, mas podem ingerir líquidos que entrem em contato direto com suas pequenas línguas. Para a comida, moradia e educação elas são totalmente dependentes das formigas escravizadas eclodidas dos casulos que elas pilharam. Sem estas escravas elas são praticamente incapazes de sobreviver e são sempre encontradas em ninhos com a arquitetura do da espécie com a qual estão misturadas. Quando estão no ninho, as amazonas demonstram dois comportamentos: ficam paradas, completamente imóveis, como se estivessem na maior preguiça, ou ficam pedindo comida para as escravas ou ficam se limpando. Mas uma vez fora do ninho, em suas expedições, elas demonstram uma coragem impressionante e uma ação coordenada comparada, especialmente comparada com a ação descoordenada dos ataques das sanguinea. As amazonas são muito mais especializadas que as sanguinea, mas para atingir este estágio, se tornaram irremediavelmente dependentes e parasitárias das suas escravas. As colônias de amazonas costumam ter algo entre 300 e 500 operárias, podendo pilhar até 30000 imaturos da formiga escravizada em uma temporada de ataques, sendo que só 1/3 destes chegam a crescer, muitos sendo danificados, pelas mandíbulas inapropriadas para este fim, durante o transporte. A tática de ataque da amazonas é diferente da formiga sanguinária. Elas saem do seu ninho rapidamente, e correm até o ninho a ser saqueado, a uma velocidade de 3 centímetros por segundo. Quando chegam no ninho atacado, não hesitam como as sanguinárias, mas entram de uma vez, pegam a prole e saem novamente, voltando para casa. Quando são confrontadas pelas operárias do ninho atacado, elas perfuram suas cabeças ou tórax, normalmente matando uma grande quantidade destas.

Escravismo Verdadeiro
Entretanto, quando uma espécie captura outra e usa o seu trabalho para seu proveito, no caso dos seres humanos, nós não chamamos de escravismo, mas de domesticação. Nos casos descritos anteriormente, mesmo sendo dentro da mesma família Formicidae, as escravisadoras capturam espécies diferentes e as domesticam como nós domesticamos gado, cães e gatos. Seria como se nós domesticássemos primatas, o que efetivamente acontece.

O verdadeiro escravismo acontece quando uma espécie usa o trabalho da sua mesma espécie, mas de origem diferente, nem que seja de um visinho. E isto também acontece entre as formigas. Algumas espécies capturam imaturos da sua própria espécie de ninhos diferentes, ou de espécies do mesmo gênero, que uma vez eclodindo dentro de seu ninho, tornam-se escravas, cuidando dos afazeres do ninho como se este fosse o seu.

Altruismo 2.
Formigas e abelhas são conhecidas pela sua organização social, com divisão de castas de trabalho e casta reprodutiva. As operárias normalmente não se reproduzem, ou em alguns casos de algumas formigas, se reproduzem apenas muito eventualmente. As rainhas geram a casta das operárias e também as futuras rainhas que voarão e se reproduzirão fora do ninho, formando novas colônias. As operárias não deixam descendentes.

Este estilo de vida altruísta das operárias, trabalhando para 'o bem da colônia', aparentemente vai contra a idéia de seleção natural. A seleção é individual, age selecionando o conjunto de genes mais adaptado e os genes estão dentro de cada indivíduo. As abelhas e a idéia de um animal não se reproduzir já intrigava o próprio Darwin, em seu livro A Origem das Espécies. Se o indivíduo não deixa descendentes, como a herança deste comportamento pode ser perpetuada sem passar este gene para os descendentes dos animais que o possuem? Porque genes sem este comportamento não surgem e se fixam na população?

O gene é passado, não da mãe (operária) para uma possível filha, mas pela irmã reprodutiva, que virará rainha. Cooperando com a construção e manutenção da colônia, a operária aumenta a chance de uma de suas irmãs se reproduzir e deixar descendentes e com isto, seus genes. É a vantagem de viver em uma sociedade muito bem organizada, e compartilhando uma grande quantidade de genes entre si. Mas no caso das formigas e abelhas, há um motivo ainda mais forte: Os himenópteros têm um sistema reprodutivo diferente dos demais animais. Enquanto nós e a maioria dos outros seres, somos diplóides, eles são haplodiplóides.

Os diplóides têm pares de cromossomos. No nosso caso, 23 pares. Enquanto nos animais haplodiplóides, as fêmeas têm pares de cromossomos e os machos apenas um conjunto de cromossomos. E isto muda completamente as proporções de genes passados de pais para filhos e também entre parentes.

Em nós, diplóides, nossa relação com os pais é de 50%. Nós recebemos metade do conjunto genético de cada pai. Nossos irmãos também recebem metade do conjunto genético dos nossos pais. Com isto, nós nos assemelhamos em média 50% com nossos irmãos. Em média porque nós podemos ter um irmão que herdou os outros 50% de cada pai e por isto ter 0% de genes em comum conosco, enquanto outro pode ter herdado os mesmos 50% de genes que nós dos dois pais, sendo 100% iguais a nós. Como são muitos e muitos genes, a média acaba sendo de 50%.


Enquanto isto, os haplodiplóides herdam 50% dos genes da mãe, sendo assim, como os diplóides, semelhantes em 50% com a mãe. Mas como o pai tem apenas 1 conjunto de cromossomos, seu conjunto inteiro de genes é transmitido para seus descendentes, sendo a semelhança entre pai e filhos de 100%. Até ai tudo bem, afinal a colônia é formada por operárias e rainhas, e a questão é porque as operárias não deixam filhos, com 50% dos seus genes? A resposta está na semelhança entre as irmãs. Como cada irmã recebe 100% dos genes do mesmo pai, a semelhança entre elas é maior que de mãe para filha. As irmãs se assemelham em média em 75% dos genes. Esta peculiaridade é chamada de REGRA DA HAMILTON.


Com isto, uma operária que coopera efetivamente com a sobrevivência e melhor preparo de futuras rainhas, irmãs com 75% de semelhança entre si, elas estarão colaborando mais para a transmissão de genes que deixando suas próprias filhas com 50% de semelhança.
Esta é uma visão simplificada do sistema de reprodução dos himenópteros, que fica um pouco mais complicado quando há espécies cuja fêmea é fertilizada por mais de um macho e também porque para as operárias, cuidar de seus próprios filhos machos pode ser mais vantajoso que cuidar de um irmão. Por isto, há variações neste sistema. Algumas operárias realmente têm filhos machos que voarão e se reproduzirão.

Correição
Segundo Wilson3, nenhum espetáculo no mundo é mais excitante e mistificador que uma colônia de formigas de correição (Army Ants) em marcha. Em seu livro, Wheeler expressou a poesia desta cena:

"As formigas guias e as legionárias são os Hunos e Tártaros do mundo dos insetos. Seu vasto exército de formigas cegas, mas altamente cooperativas e polimórficas, preenchidas com um apetite carnívoro insaciável e uma paixão por migrações eternas..."

Formigas de correição são nômades que se movem constantemente, com ninho e tudo. O ninho temporário não passa de um amontoado de formigas, as vezes em uma fresta no chão ou em um tronco, presas umas as outras, com a rainha e os imaturos no meio. Estes ninhos temporários ficam no mesmo lugar por alguns dias, enquanto as formigas fazem linhas de caça, as vezes com metros de largura, capturando e matando tudo que puderem carregar de volta. Elas predam outros artrópodos, e até pequenos vertebrados como sapinhos e lagartos. Fazem estas linhas de caça em várias direções, até mudarem o ninho completo, carregando ovos, larvas e pupas, junto com a rainha, até um novo local temporário, de onde partirão novas linhas de caça. Em algumas espécies que ocorrem na América do Sul e Central, como as do gênero Eciton, o colônia pode ter algo entre 150 e 700 mil operárias. Uma espécie africana do gênero Dorylus pode checar a ter de 2 a 20 milhões de operárias.

As colunas de caça de algumas espécies como a Eciton hamatum são ramificadas e menos densas, espalhando-se em 3 ou 4 grandes braços, que se dividem em mais 3 ou 4 cada. Já colunas como da Eciton burchelli, uma das mais famosas formigas de correição, podem ser praticamente únicas, ramificadas na mesma direção, formando uma ampla e densa frente de caça, eventualmente com alguma frente secundária pequena.

Para encontrar uma correição no meio de uma mata tropical densa e completamente fechada não é muito difícil, especialmente nas matas equatoriais. Basta fazer silêncio no início da manhã, ouvindo apenas os poucos pássaros de dossel cantando eventualmente. De repente, pássaros seguidores de correição começam seu frenesi, procurando insetos que barulhosamente fogem desesperados da coluna de caça da correição. O barulho é como se levantassem o tapete de folhas do chão da mata e o arrastassem lentamente. Milhões de pesinhos andando sobre as folhas fazem um som inconfundível.

Mas ao contrário do que o mito diz, estas colunas não chegam a quilômetros de larguras, mas talvez metros, e até dezena de metros. Não comem as pessoas que não saem do seu caminho, apesar de que sua picada, inevitável se ficarmos efetivamente no caminho, é dolorosa, sem falar no beliscão do soldado que efetivamente tira sangue. Várias picadas desta, em quem persistir em não sair do caminho, deve doer muito. Mas não há o perigo delas lhe prenderem em uma armadilha Guliveriana. Qualquer um pode fugir facilmente, e normalmente o faz instintivamente.




1. Hölldobler B. & Wilson, E. O. The Ants. Belknap Harvard.
2. Alcock J. Animal Behavior. Sinauer.
3. Wilson, E. O. 1992. Diversidade da Vida. Companhia das Letras.