À noite, vários insetos são atraídos
pela luz, voando em volta do lampião, entrando pela janela das nossas casas,
girando em volta das lâmpadas e caindo queimados no chão. Andando no mato
completamente escuro, invariavelmente vários insetos ficam batendo na nossa
cara quando voam em volta da luz da nossa head-lamp. Ou pior, quando vamos
olhar como está a comida no fogareiro usando a lanterna ou dar aquela mexidinha
para não grudar tudo no fundo, volta e meia um inseto, atraído pela luz, cai
dentro e complica a tarefa de cozinhar.
Ou para alguns, como meu amigo
Bareta, aumenta o nível de proteína da comida.
Muitas pessoas me perguntam
intrigadas qual é a origem deste comportamento: "Porque estas mariposas
(ou vários outros insetos) buscam a luz, se quando chegam elas giram em volta
até morrer?". A resposta é: elas não buscam a luz. Elas sofrem um problema
de orientação e acabam erradamente voando em direção a luz.
Os insetos noturnos não se orientam
como nós, que usamos basicamente a visão procurando por pontos conhecidos na
fisionomia do ambiente. Quando os insetos noturnos usam a visão para se
orientar, eles não se guiam pela fisionomia do ambiente, mas sim pelo seu
ângulo de vôo em relação a um ponto fixo no espaço. No caso dos insetos, o
ponto fixo geralmente é a lua. Como a lua está a uma distância enorme, ela
encontra-se praticamente no infinito para estes animais. Por mais que eles voem
em linha reta, jamais se deslocarão o suficiente para mudar o seu ângulo de vôo
em relação à lua (esquema abaixo). Por exemplo,
se eles estiverem voando em linha reta a 90 graus em relação à lua, daqui a 1
km continuarão a 90 graus. E se quiserem voltar, é só voar a 270 graus, ou 90
graus no sentido contrário. Assim elas conseguem saber para onde estão indo e
para onde devem virar se quiserem voltar, ou quanto devem virar se quiserem
fazer um círculo.
Mas o que acontece quando os insetos
vêm lanternas ou lâmpadas, para eles pontos luminosos tão fortes ou mais ainda
que a lua? Eles acabam se confundindo. Estes pontos, mesmo que imóveis, não são
fixos no espaço. O ângulo de vôo em relação a estes objetos muda com o
deslocamento do animal. Se eles se deslocarem em linha reta a 90 graus de um
objeto que está a 200 metros de distância, depois de 100 metros seu ângulo terá
aumentado cerca de 22 graus e depois de 200 metros, terá aumentado 45 graus (esquema abaixo). Como os insetos acham que
esta lâmpada também é um ponto fixo no espaço, quando o ângulo do seu vôo
aumenta, eles tentam manter o mesmo ângulo, no intuito de voar em linha reta.
Mas o que acontece é justamente o oposto. Com estas correções de ângulo eles
acabam fazendo uma curva, voando em círculos, achando que continuam a voar em
linha reta.
Mas isto só explica porque eles voam em círculos. Mas porque eles se aproximam da luz? Na realidade nem todos os insetos se aproximam da luz. Alguns se aproximam e outros se afastam, em círculos, da luz. Isto acontece porque nem todos corrigem igualmente o seu ângulo de vôo, afinal, uma correção precisa do ângulo é muito difícil. Alguns exageram um pouquinho na correção deste ângulo, resultando em um vôo convergente, acabando com o animal colidindo com a fonte de luz (esquema abaixo).
Estes são os que nós vemos
atraídos pela nossa lanterna. Outros não corrigem totalmente o ângulo de seu
vôo, girando também em círculos ao redor da fonte de luz, mas de forma
divergente (esquema abaixo). Estes
animais girarão, girarão e acabarão por se afastar da lanterna, não vindo cair
no nosso prato de sopa.
Webventure, AventuraBrasil,
Coluna Eco, 14 de dezembro de 2001
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