segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Falsos Olhos

Vários animais têm falsos olhos pintados em seu corpo. Eu já tomei muitos sustos andando em florestas tropicais, ao ver uma grande borboleta ou mariposa com estes olhos nas asas, escondidas no meio da vegetação. Uma vez, na Mata Atlântica do Espírito Santo, eu vi uma mariposa camuflada no tronco de uma árvore, mas quando ela percebeu que havia sido descoberta e que eu me aproximava, abriu suas asas de cima e desvendou grandes e redondos olhos amarelos nas asas de baixo. Por um instante eu titubeei. Nas borboletas e mariposas, cujas escamas formam desenhos, os mais variados possíveis, falsos olhos são comuns. Mas outros animais, como sapos e peixes também costumam ter espécies com falsos olhos. O tamanho e a forma destes olhos varia muito. Em geral são grandes, muito maiores que os do próprio animal, mas também podem ser uma série de pequenos olhinhos. Alguns são complexos, com pupilas e até aro em volta da íris. Outros são simples manchas negras deitadas em um fundo mais claro.

A idéia por trás de todos estes olhos é sempre a mesma. Enganar um possível predador, fazendo-o achar que se encontra na presença de algo ainda maior que ele. De preferência do seu predador. O instinto de caça é muito forte nos animais. Eles são muito bem adaptados a perseguir e capturar sua presa de forma eficiente, rápida e normalmente sem falhas. Entretanto, o instinto de sobrevivência, de escapar dos seus predadores, costuma ser ainda mais forte. Ao ver um olho bem maior que o seu, ficar vivo até a próxima refeição torna-se mais importante que conseguir esta refeição. 


Só que por mais sofisticados que sejam, falsos olhos não costumam enganar um predador por muito tempo. Afinal, até o mais elaborado dos falsos olhos não resiste a uma segunda olhada. Entretanto, a idéia não é enganar o predador indefinidamente. A função dos falsos olhos é iludi-los por tempo suficiente para que uma segunda estratégia de defesa seja empregada, em geral a fuga. Uma borboleta que faça um bem-te-ví recuar por tempo suficiente para bater suas asas e sair voando terá muito mais chance de escapar que outra borboleta que não distraia a atenção do predador, sendo capturada de imediato. Lagartas que façam com que um macaco hesite, permitindo que elas se joguem do ramo, terão mais chance de sobrevivência que lagartas com cara de uma suculenta e saborosa refeição, cujo predador, não tirará os olhos de cima até apanhá-la, em geral de surpresa.

Mas a possibilidade de ter aumentada infimamente a possibilidade de escapar não parece o suficiente para justificar o surgimento destes falsos olhos, que certamente têm suas desvantagens e o seu custo. Os olhos são uma imagem organizada e reconhecível, e por isto costumam chamar mais atenção que padrões uniformes de coloração, que se camuflam com o ambiente. E não ser enxergado é, sem dúvida, mais vantajoso. Além disso, há um custo energético envolvido na produção de formas tão complexas. Energia esta que poderia ser economizada em uma cor simples, igual ao ambiente, camuflada. Entretanto, mesmo que estes falsos olhos aumentem apenas minimamente a chance de sobrevivência e transmissão da sua coloração para os descendentes, ajudando apenas um entre centenas de indivíduos semelhantes a cada geração, este pequeno aumento é suficiente para favorecer os animais com esta característica na população, selecionando-os. Com isto, em espécies com taxas elevadas de ataques por predadores que podem se espantar com olhos maiores que os seus, estas características tendem a se manter em detrimento de outras que colaboram menos com a sobrevivência dos indivíduos.

E, como diz o Walter, um velho amigo meu, professor de educação física acostumado a lidar com crianças que têm a incrível habilidade de se colocar em situações de risco: 'Para os sobreviventes a diferença é de 100%'. Neste caso pode ser o beneficiado pela dúvida do predador.

Webventure, AventuraBrasil, Coluna Eco, 11 de janeiro de 2002

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